Estratégia Europeia Net-Zero – Redução, Remoção e Captura de Emissões


O objectivo de atingir a neutralidade de emissões de gases com efeito de estufa na atmosfera até 2050 na UE, depende obviamente de um conjunto vasto de políticas, multissectoriais, tanto micro, como macro, e de uma forte transformação social, económica e política na União Europeia. Sendo que todas as medidas com vista ao alcance da meta em 2050, estão alicerçadas num vasto leque de políticas europeias. No entanto, nesta publicação vamos nos focar em dois pontos essenciais: Quais os principais factores vão contribuir para a redução de emissões, e a importância da política de captura de GEE (Gases com Efeito de Estufa). 


No relatório de avaliação de impacto, emitido pela Comissão Europeia dia 6 de fevereiro de 2024, é apresentado o cenário actual sobre as emissões de GEE, e a sua evolução á medida que vai sendo executada a estratégia europeia. Sendo que o nível de execução é repartido pelos vários sectores económicos relevantes, e por três diferentes cenários, que remetem para três diferentes graus e níveis intensidade de implementação da estratégia Net-Zero.

 

Os sectores são identificados como:

  • O sector energético; sector industrial; sector residencial e serviços; sector agrícola; sector dos transportes e sector de gestão de resíduos. A estes a UE acrescenta dois factores que relevantes que contribuem cumulativamente, nomeadamente o LULUCF, que simplificando, consiste na estratégia de reflorestação, e a LIFE, que prevê uma contínua mudança de hábitos de consumo, mais sustentáveis, desde o consumo de energia e necessidades de aquecimento, hábitos alimentares, fortalecimento da economia circular, redução no uso de matérias primárias, um aumento no uso de transportes públicos e mobilidade inteligente. 

 

E os três diferentes cenários de execução da estratégia são:

  • S1: Até 2040, este cenário assenta essencialmente nas tendências energéticas pacote de medidas 55, que lhe permitem cumprir um nível de emissões mínimo em 2040 mas que ainda permite o caminho de redução “linear” do GEE entre 2030 e 2050. Não pressupõe mitigação específica de emissões de CO2 além da sua evolução padrão no quadro atual, por exemplo, na agricultura ou no sector LULUCF (Políticas de reflorestação e alterações no uso da terra). Este cenário obriga a que para além de 2040, todos os sectores terão de reduzir drasticamente as emissões de GEE com vista á concretização do objetivo de neutralidade climática até 2050, e todas as tecnologias precisam de ser implantadas no intervalo remanescente de 10 anos. 
  • S2: Para atingir uma redução de pelo menos 85% até 2040, este cenário combina o resultado das políticas climáticas e energéticas refletidas no S1, mas com uma maior implantação da estratégia de captura de carbono da introdução dos E-Combustíveis, bem como considera reduções substanciais das emissões de GEE no sector terra, incluindo uma forte redução de emissões não-CO2 no sector agrícola e remoções de carbono através do sector LULUCF (Políticas de reflorestação). 
  • S3: Para alcançar uma redução de pelo menos 90% até 2040, este cenário baseia-se na execução com sucesso do cenário S2, com o acréscimo de uma indústria de gestão de carbono totalmente desenvolvida até 2040, atingindo níveis mais elevados de captura de carbono, bem como uma maior produção e consumo de E-Combustíveis, comparativamente com o S2, permitindo ir mais além na descarbonização do mix energético.

Legenda: Evolução temporal dos três diferentes cenários de execução da estratégia europeia Fonte: (Comissão Europeia).


Como será alcançada a redução de emissões?

A descarbonização do sector energético será atingida através do alargamento e disponibilização de um amplo conjunto de tecnologias para gerar eletricidade (nomeadamente energias renováveis) através da captura de carbono, bem como através da redução das emissões de metano de na diminuição do uso de combustíveis fósseis.

As emissões na indústria serão reduzidas em 56-84% em comparação com 2015, devido à eletrificação, implementação de novas tecnologias de produção, inovação em processos, uso de materiais ou fontes alternativas como combustíveis renováveis de origem não biológica (Hidrogénio verde, amónia verde, e-diesel, e-metanol, e-sng) e cadeias de abastecimento mais ambientalmente responsáveis. As reduções terão também a contribuição da absorção gradual do hidrogénio e do desenvolvimento da estratégia de captura de carbono para a redução de emissões. Sendo esperado o fim do uso de combustíveis fósseis sólidos no sector, e todas as emissões de CO2 no processo industrial sejam capturadas. 

As emissões nos sectores residenciais e dos serviços diminuem entre 77-85% em comparação com 2015, sendo essa diminuição impulsionada pela implantação sustentada de bombas de calor e na aposta da eficiência energética dos edifícios.
As emissões dos transportes diminuem entre 69-78% em comparação com 2015, principalmente devido a implantação de veículos elétricos no transporte rodoviário de todo o tipo, juntamente com uma forte de transição dos combustíveis fósseis para E-Combustíveis ou biocombustíveis avançados, nos setores marítimo, de aviação e rodoviário de transporte. 

No sector agrícola, onde as emissões de GEE têm permanecido relativamente estáveis ao longo dos últimos 10 anos, as emissões de GEE irão diminuir em cerca de 10% em comparação com 2015 no cenário S1, e em cerca de 22% e 30% nos cenários mais ambiciosos em S2 e S3 respectivamente, impulsionadas por melhorias tecnológicas na pecuária, mitigação das emissões de metano, melhorias e inovação na gestão de resíduos e na aplicação de fertilizantes. 

O setor de gestão de resíduos reduz as emissões em todos os cenários em mais de 50%, em comparação com 2015. Esses resultados serão alcançados através do reforço de políticas de reciclagem, economia circular, desenvolvimento de centrais de produção de biogás e optimização de processos na gestão de resíduos.

Legenda: Emissões de GEE por sector – evolução perante os diferentes cenários de execução da estratégia europeia. Fonte: (Comissão Europeia).

A importância da captura e remoção de emissões para a meta Net-Zero 2050.


A Comissão Europeia no seu relatório, enfatiza a importância da captura de emissões devido a três factores determinantes, nomeadamente:

Para o alcance da meta Net-Zero e perante a dificuldade em eliminar por completo as emissões em alguns sectores, é determinante a adopção de estratégias com vista á sua mitigação. Além de que, nem todos os sectores vão conseguir chegar a 2050 com níveis de emissão zero, nem se perspectiva que algum dia o consigam fazer, logo, importa desenvolver estratégias que procurem criar um equilíbrio. 

A captura de emissões é apresentada como uma estratégia que vai para além de 2050, sendo que a sua implementação e desenvolvimento prevê que após 2050, venha a ser possivel alcançar níveis de emissões negativos, ou seja, conjuntamente com a estratégia LULUCF, seja possível absorver GEE já existente na atmosfera. 

A captura de emissões contribui, para o alcance da meta em 2050 também através da transformação das emissões em E-Combustíveis, sendo estimado que em 2050, vão representar cerca de 7% de energia consumida no mix energético europeu. 

Legenda: Captura e uso de emissões. Fonte: (Comissão Europeia). 

 

Por fim, a remoção de emissões desempenha também um papel determinante. Através das estratégias de remoção LULUCF e industrial, é esperada uma remoção de 333 megatoneladas de CO2 da atmosfera em 2050. 

Legenda: Remoção de emissões. Fonte: (Comissão Europeia). 

 
 

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