Emissões de CO2 por Tipo de Dieta Alimentar
Convem recordar, tal como já avançamos no nosso espaço, que a questão alimentar é complexa, não se pode resumir apenas ao debate sobre diferentes formas de produção (convencional ou biológica) pois ambas as formas tém vantagens e desvantagens, tal como, devemos considerar, quando falamos de emissões do sistema alimentar, o próprio desperdício alimentar, responsável por quase um quarto (24%) das emissões poluentes ligadas ao sector alimentar, representa um peso significativo.
Quando falamos do sistema alimentar, referimo-nos a todo o processo produtivo, do sector agrícola, aos transportes, até á indústria alimentar. Todo o sistema procura dar resposta á procura por parte dos consumidores de bens alimentares. Assim sendo, parece-nos interessante analisar, como as preferências dos consumidores, traduzidas em diferentes tipos de dietas, podem influenciar as emissões de CO2 do sector.
Em 2023, um estudo publicado no “The American Journal of Clinical Nutrition”, realizado na Universidade de Tulane, nos Estados Unidos, procurou comparar os alguns tipos de dieta, analisando o seus níveis de pegada ecológica (emissões de CO2), tal como diferenciar a qualidade das dietas para a saúde dos consumidores.
As dietas foram divididas e classificadas da seguinte forma:
- Vegetariana: Dieta que exclua quase na totalidade alimentos á base de carne, aves e alimentos provindos do mar (o estudo aceita uma margem máxima de 14gramas destes produtos incluídos na dieta).
- Piscatória: Dieta que exclua quase na totalidade alimentos á base de carne e aves, mas que inclui alimentos provindos do mar (o estudo aceita uma margem máxima de 14gramas de carne e aves na dieta).
- Vegan: Dieta que exclua na totalidade alimentos á base de carne, aves, ovos, alimentos provindos do mar, e aceita apenas no máximo 120ml de lacticínios na dieta.
- Keto: Dietas que restrinjam apenas o consumo de carboidratos e fibra a um máximo de 50gr diários.
- Paleo: Dietas que restrinjam o consumo de grãos e legumes a um máximo de 14gramas, e 120ml de lacticínios.
- Omnívora: Dieta variada, sem restrições, que não encaixa em nenhuma das mencionadas anteriormente. Para efeitos de estudo, foi considerada como dieta DASH que se concentra em vegetais, frutas e grãos integrais. Inclui laticínios sem gordura ou com baixo teor de gordura, peixes, aves, feijões e nozes. A dieta limita os alimentos ricos em sal e também limita a adição de açúcar e gordura saturada, como em carnes gordurosas e lacticínios.
E os resultados obtidos foram os seguintes:
Legenda: Nível de emissões de CO2 por 1,000 calorias de cada dieta, e pontuação das deitas segundo os seus benefícios para a saúde. Fonte: (O'Malley et al., 2023).
Os resultados indicam que a dieta Keto, é a dieta com maiores níveis de emissões, com cerca de 2,91kg de CO2 por cada 1,000 calorias. Em segundo lugar, a dieta Paleo é responsável pela emissão de 2,62kg de CO2. Em terceiro lugar a dieta Omnívora, com cerca de 2,23kg de emissões. Nas dietas com menores níveis de emissões, destacamos em primeiro lugar a dieta Vegan, com apenas 0,69kg de emissões de CO2 por cada 1,000 calorias; a dieta Vegetariana em segundo lugar, com 1,16kg de emissões de CO2, e por fim, a dieta Piscatória com 1,66kg de emissões.
Já quanto á análise das dietas, em termos de qualidade para a saúde humana, é perceptível que as três dietas que provocam menos emissões, são também as três dietas com mais benefícios para a saúde. A dieta Piscatória surge em primeiro lugar, com um índice de 58,76, em segundo lugar e terceiro surgem as dietas Vegan e Vegetariana, com valores bastante próximos, 51,65 e 51,89 respectivamente.
O estudo faz ainda um exercício interessante, supondo que um terço dos praticantes da dieta Omnívora fizessem uma transição para a dieta Vegetariana, e assumindo que esta mudança seria incorporada no sistema de produção alimentar, isso representaria uma redução de 4,9% das emissões de CO2 necessárias para cumprir as metas originais dos EUA nos acordos de Paris. Esta mudança também se traduziria numa melhoria média nacional (EUA) de 6% na qualidade da dieta.
Esta análise remete-nos para a importância e a diferença que as escolhas e acções individuais dos consumidores podem ter. Parece-nos também evidente na análise, o peso que a indústria da carne vermelha tem no nível de emissões de CO2.
O tema das alterações climáticas, os níveis de poluição, e as políticas para combater o fenómeno, é debatido na maioria das vezes, através de uma análise macro, sobre os grandes números, divididos nos seus variados sectores económicos. No entanto é interessante como todo este fenómeno pode ser também influenciado, pela simples escolha de uma refeição.
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